Entrando para o honroso grupo dos clubes centenários, o Comercial, tradicional equipe do interior paulista, comemora nesta segunda-feira seus 100 anos de existência, trazendo como grande presente o retorno à elite do futebol paulista, algo que não acontecia há 21 anos.
A história do clube é marcada pela paixão de seus torcedores, que por duas vezes resgataram o Comercial de situações ruins. A primeira aconteceu em 1954, quando após quase 20 anos de paralisação de suas atividades, um grupo de torcedores resolveu estudar o ressurgimento da equipe, que ganhou o apelido de ‘Leão’.
O segundo resgate de seus torcedores aconteceu em 2009, após o rebaixamento do clube para o Campeonato Paulista da Série A3. Um grupo de aproximadamente 300 torcedores assumiu as funções do departamento de futebol e com um planejamento bem organizado, no ano de seu centenário, o time de Ribeirão Preto voltou para a elite do futebol paulista.
Nesta rica e centenária história, personagens se destacam como os ex-jogadores Piter e Paulo Bim, integrantes da marcante equipe dos anos 60, que conquistou a quarta colocação do Campeonato Paulista e Rogério Vieira, atual diretor de futebol do clube e um dos torcedores que resgatou a equipe em 2009.
O jogador que parava Pelé
Não se pode falar da história do Comercial sem citar o ex-zagueiro Piter, considerado um dos melhores marcadores que Pelé já teve. Hoje reconhecido pelos feitos do passado, o ex-jogador lembra com orgulho de sua passagem na equipe de Ribeirão Preto.
O ex-zagueiro sempre gosta de reiterar que jogou em uma época de muitos craques. “Me sinto muito satisfeito por tudo que fiz e vale lembrar que peguei uma época só de feras, como Garrincha e Pelé. Só joguei com bons jogadores e graças a Deus me destaquei”.
Zagueiro leal e técnico, Piter chegou a ser considerado um dos melhores marcadores que Pelé teve em toda sua carreira. Ele se lembrou de como era jogar contra o rei do futebol. “Eu perdia oito quilos em uma partida correndo atrás dele, mas sem dar pontapé, sempre caprichando no trabalho direitinho para não ter problema de arbitragem”.
Piter também fez questão de lembrar sobre sua convivência com o treinador Alfredinho Sampaio, que ficou conhecido como ‘bruxo’ por salvar várias vezes a equipe de Ribeirão Preto do risco de rebaixamento. “O melhor técnico que eu tive foi o Alfredo Sampaio. Gosto sempre de falar isso. Era o nosso pai. Nos tratava bem, confiava em nós e por isso andávamos sempre direito”.
Se o treinador é lembrado com carinho por Piter, a torcida também não fica atrás nas lembranças do ex-jogador. “Sobre a nossa torcida, apenas tenho a falar que quero todos eles muito bem. Demos muitas alegrias para eles e fomos retribuídos por isso. Eles podem ter certeza que tem um lugar guardado aqui do meu lado esquerdo”, concluiu.
O estreante das redes do Palma Travassos
Um gol que marcou o atacante para sempre na história do Comercial. Esse é o caso de Paulo Bim, lendário artilheiro da equipe de Ribeirão Preto e autor do primeiro gol marcado no estádio Doutor Francisco de Palma Travassos.
O lance marcante aconteceu em uma quarta-feira, dia 14 de outubro de 1964, perto dos 15 ou 20 minutos do primeiro tempo, contra o Santos. O jogador recordou o momento. “O gol foi mais ou menos assim: era jogo difícil, principalmente contra o Santos de Pelé, Gilmar, Mauro, Lima, Pepe... Foi no primeiro tempo, tive a felicidade de estar no meio de dois zagueiros. Como tínhamos um meio de campo muito habilidoso, toda hora esperávamos a oportunidade de gol e por isso nos deslocávamos. Essa bola foi metida na frente, eu entrei no meio dos zagueiros e fiz o gol”, relatou.
Paulo Bim admite que em um primeiro momento não chegou a pensar na grandiosidade de seu feito. “Não sabia da grandiosidade desse gol, só tempos depois quando colocaram a placa e começaram a falar bastante. Fico muito feliz de participar da história de um clube que é um dos principais do interior. Me sinto satisfeito, honrado em poder estar lá nessa história”.
Torcedor do Comercial, o ex-atacante que marcou mais de 80 gols pelo clube, mostrou-se confiante na fase que a equipe vive. “Tenho assistido os jogos do Comercial e tenho sentido que o time está com aquela vontade, garra e confiança que fazia muito tempo que não se via. Ficamos muito tempo atrás, sem disputar a elite e já está na hora de colocar Ribeirão Preto, e digo dos dois clubes, na Série D. Acredito que o Comercial tem condição hoje, com esse presidente audacioso, de disputar uma competição nacional”.
O resgate de uma paixão
Se em 1954 um grupo de torcedores, entre eles Francisco de Palma Travassos, se uniu para resgatar o futebol do Comercial, situação semelhante aconteceu em 2009, quando a equipe amargava uma queda para o Campeonato Paulista da Série A3.
Atual diretor de futebol do clube, Rogério Vieira, que participou do movimento, falou como os fatos aconteceram. “Quando o clube caiu para a A3, nos unimos em 300 torcedores. Fizemos um grupo e a principio não tínhamos nenhum apoio. Começamos já na Copa Paulista daquele ano. Todos que vieram não mexiam com futebol e tudo isso acabou culminando na conquista do acesso, 15 meses depois”.
Rogério ainda falou do orgulho de fazer parte da história do clube. “Para nós, que não militávamos no meio do futebol, foi difícil. Assumimos depois que o time caiu para a Série A3 e poucas pessoas acreditavam que as coisas iriam dar certo. Ter participado desses dois acessos vai ficar marcado para sempre”.
Garantido na Série A1 do Campeonato Paulista, o diretor de futebol revela que o sonho da equipe passa a ser agora uma vaga no Campeonato Brasileiro. “Vejo que voltamos para ficar. O mais difícil foi conseguir voltar e agora queremos permanecer para conseguir a vaga na Série D. Nosso objetivo é tentar essa vaga e, consequentemente, manter o clube na Série A1, que é um lugar de onde nunca deveria ter saído”.
Por fim, Rogério falou do orgulho que sente em ver novos torcedores que poderão ter a oportunidade de ver o clube na elite paulista. “Hoje, vemos com muito orgulho pessoas da nova geração, que nunca tinham visto o Comercial na A1 e terão essa oportunidade. Isso é muito legal”, concluiu.
Fonte: Federação Paulista de Futebol
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