Juro que o desejo era poder escrever sobre outros assuntos. Já estamos no segundo semestre de 2020, parte final do governo que foi eleito em 2016 para tentar reescrever a história de uma cidade machucada com escândalos de corrupção. Mas, fica difícil mudar a chave diante de tantos erros e desmandos em nossa saúde. Uma verdadeira fábula que cai por terra diante de um roteiro desastroso. 


O último episódio foi visto na semana passada, quando do nada se descobre que o prefeito simplesmente autorizou a Secretaria de Saúde a fechar 32 leitos de UTI. Os 250 leitos do início do mês viraram 218. Ou seja, ainda em meio a pandemia, depois de vários meses com o comércio fechado por causa do risco da falta de leitos, o nosso gestor autoriza que a cidade opera com menos leitos. Não deu nem tempo do comerciante abrir as portas para tentar se recuperar e já existe o risco de, mais uma vez, regredirmos de fase.   

A decisão de tratar essa situação, que ameaça a saúde e também o bolso de milhares, como simples números de uma planilha, ocorre no mesmo momento em que o Secretário de Saúde, Sandro Scarpelini, é acusado pela Polícia Federal de ter escondido, de forma proposital, sua ligação com o dono da empresa de ambulância contratada sem licitação. O futuro do secretário está nas mãos da Justiça. Na Câmara, também pedimos a saída imediata dele. Ou seja, toda a promessa de colocar Ribeirão Preto longe dos escândalos ou das páginas policiais caiu por terra. Está na mesma prateleira dos três AMEs que começariam a ser construídos logo depois dele assumir a cadeira.

As decisões de quem comanda a cidade continuam causando estranheza na população. Desde o início da pandemia, quando o governo passou a ter um papel ainda mais importante na vida de nossa população, o despreparo ficou gritante. Além do escândalo de corrupção, erros primários, como redução da frota de ônibus e repasse inexplicável para o IPM, machucaram ainda mais quem precisa do poder público. 

Infelizmente, os números que serão apresentados nos próximos meses, na corrida eleitoral que já pega fogo em nossa cidade, são números pensados em um gabinete ou numa agência de publicidade. Números de quilômetros de recapeamento, de corredores de ônibus ou de viadutos que a população ainda tenta entender o sentido. Obras faraônicas (com poucas ressalvas) que se juntam a outros tantos projetos inexplicáveis, como a reforma milionária da Maria-Fumaça. Os números de leitos fechados, ou de garis e cozinheiras que quase perderam o emprego, estarão longe das propagandas da Terra do Nunca que tentará ser traçada pelo reino tucano. Porém, será que alguém ainda acredita em conto de fadas ou cai no canto da sereia?